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segunda-feira, 28 de junho de 2010

Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces.
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada.
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

Vinicius de Moraes

Simplesmente porque uma dose (ou até overdose) de Vinicius é sempre bom.

Carpe diem

domingo, 27 de junho de 2010

[...]

Seu rosto ficava inexpressivo quando contrariada. E contrariada significa qualquer coisa que desfizesse o leve sorriso que carregava no rosto ou aquela seriedade quieta de quem está pensando em nada. Contrariá-la era deixá-la diferente. E deixá-la diferente era dar-lhe com aquela expressão sem expressão.
Era aquele semblante de quem tenta disfarçar um sentimento, mas não acho que ela o estaria fazendo. Para mim, há duas hipóteses: ou o sentimento não encontrou um caminho até o rosto, ou ela ainda não sabe como reagir a determinadas emoções. De mais a mais, creio que seja demasiado pequenina para ser possuidora de mistérios.



Carpe diem

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Um ano sem Michael Jackson

Nessa mesma hora do dia, há um ano, o mundo quase todo se voltava para a vida - e possível morte - de um homem. Era incrível a quantidade de notícias em noticiários fora de hora e sites na internet jorradas na minha cabeça. Daí que eu passei uma tarde mais ou menos assim: "Michael Jackson morreu? Tá em coma? Morreu ou tá em coma? Fulano tá na porta da casa dele? E aí? Morreu não, né? Eu sabia... Mentira? Morreu? Ai, meu Deus, quanta conversaaa! Vou desligar esse computador aqui pra não ver mais nada!"A pergunta é: por que isso importa tanto pra mim? Então comecei a lembrar do que foi possível desde que eu era criancinha até aquele dia e vi que as músicas, as coreografias, a história, as loucuras, os boatos e verdades sobre ele estavam impregnadas em tudo que era meu. Eu não era fã de carteirinha dele, nem me tornei depois que ele morreu, mas ele estava presente no meu dia-a-dia de um jeito que eu nunca percebi. Cada vez que ia pra aula de dança lembrava que meu sonho era aprender a dançar "Thriller", cada vez que me pediam pra lembrar de uma música legal eu lembrava de "Billie Jean", cada vez que me pedissem uma música que eu considerasse liiiinda, eu cantaria "Ben" ou "I'll be there" e se me perguntarem qual a foto mais engraçada que eu tenho, eu diria que é uma em que eu tenho uns 3 ou 4 anos e estava tentando fazer o Moonwalk. É por isso que aquela notícia importava tanto pra mim.


Michael Jackson não fazia mais tanto sucesso, mas ele, a vida dele, era o que simbolizava tudo que a ele se referisse. É como se alguém passasse o fim de semana na praia, pegasse uma concha pra ficar de lembrança e perdesse a tal concha no meio da viagem de volta. A lembrança haveria, só não teria mais o símbolo dela.
De noite tentei desviar minha atenção dos grandes fatos, até porque o Michael Jackson não ia morrer. Tá doido? Justamente ele? Tão... tão... significativo. Tão sensacional, tão magnífico, tão rei... Ah, não. Ele não...
Posteriormente então, recebi a triste notícia dada por William Bonner. O jornal tava passando na TV do quarto e eu ouvi a voz familiar dizer que M. J. havia mesmo morrido. Então chorei as lágrimas que ficaram guardadas durante uma manhã e uma tarde toda na esperança de não serem derramadas. Não foi o choro descontrolado dos fãs e familiares, foi um choro silencioso, discreto... Meu corpo só queria lamentar baixinho o fim de uma vida que teve uma participação significativa na minha. E só.



Hoje faz um ano que tudo isso aconteceu. Esse post é pra homenagear não o homem que está morto, mas a arte que está viva na minha memória e na de tantas outras pessoas.


Carpe diem

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Imaturidade

Bem, andam me chamando de imatura. Terei que assumir: sou imatura mesmo. Principalmente quando se trata de lidar com loucos... Nunca saberei o suficiente.
=/
Foi mal aê!

Obs.: Bem, e eu acho que não disse aqui a quem o post 'Ah, uma pedra!' era direcionado. Postar nesse blog é meu hobby, eu gosto disso... Então tirei a droga desse post, como os Anônimos de plantão podem ver, pra evitar que encham minha paciência por coisa pouca.
Agora circulando, que eu num gosto de IBOPE alto no meu blog não, blz?

Mas o anonimato acabou por aqui. Quem for covarde (ou fingidor, chame como quiser) pode procurar outro blog pra encher o saco.

Carpe diem, como sempre.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Sem sofrimento, sem inspiração

Por que o sofrimento inspira? Por que SÓ o sofrimento me inspira? Estou há um tempão sem escrever um bom texto que tenha começo, meio e fim. Geralmente me aparece uma história; aparentemente uma história. Quando começo a escrevê-la, percebo que isto é só o meio e eu preciso de um começo e um fim. Escrevo o tal 'meio da história' e tento a todo custo fazer um início. Ou talvez fosse mais fácil fazer o final? NÃO! O meio é tudo que tenho. Uma história sem pé e nem cabeça, só o tronco esperando por ter seu corpo completado por mim. Por mim!
Eu, então, me vejo como uma espécie de cirurgiã. Uma responsabilidade imensa nas mãos, um tronco que precisa de membros, que precisa de vida e eu sem nada poder fazer... E eu sem uma ideia sequer de como arranjar essas partes e costurá-las ao tronco incompleto.
Já tentei colecionar partes de textos, sim. No início achei mesmo que isso fosse dar certo. Mas um dia me apareceu na mente um meio de história fascinante, incrível, maravilhoso, perfeito! e eu não pude dar-lhe as partes de que necessitava. Não pude ao menos implantar os parágrafos posteriormente escritos. Esse meio de história passou a ser só mais um fragmento.

Nessa mesma noite, pra me consolar, tentei emendar algumas partes de outros textos umas nas outras, mas não deu certo. Por que imaginei que daria? Percebi que cada um tinha uma essência, um cenário pronto na minha cabeça, personagens que lhes cairiam perfeitamente e eu não podia simplesmente tirar um de sua própria natureza e colocar em outra.
Às vezes isso me enlouquece. Só às vezes. Eu costumava escrever bons textos, com várias metáforas, e símbolos, e significados... Eu era boa nisso. Bem... Na época eu não achava, mas agora eu acho. Aí eu penso: que diabos aconteceu comigo? E vem na minha cabeça a resposta mais simples: você é feliz, só isso.
A minha felicidade pode ter danificado minha capacidade de criar textos amargos, sôfregos, tristes. Mas é que eu não consigo fingir. Nem todo poeta é um fingidor, ô seu Fernando Pessoa. Eu precisava ser infeliz pra escrever bem. Ou ao menos precisava VER alguém infeliz pra escrever bem. Mas agora, tudo está tão calmo, tão simples, tão como eu queria que fosse que não tenho mais aquela amargurazinha dentro de mim. No lugar dela há um sorriso, apesar dos pesares. E que se dane minha capacidade de escrever bem porque o que eu quero ser feliz na realidade e não na fantasia. E que assim seja.





Carpe diem