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segunda-feira, 2 de julho de 2012

"rituale"

Era balançando as pernas pra frente e pra trás que as ideias começavam a surgir, funciona como uma válvula, fazendo o corpo inteiro trabalhar de um jeito diferente. Era um ritual.
Assim, concentrada, era fácil lembrar datas, acontecimentos passados e mais passados, comparando-os e certificando-se cada vez mais de que a história é um ciclo, em que tudo acontece de novo, de novo e de novo até o fim... Que fim? Eis que surgia de repente o medo assustador da não existência, sentimento que fazia a jovem retornar ao ciclo da história, ignorando a possibilidade de não viver para sempre.
E as marcas? A vida, o mundo, as pessoas... Formaram nela o desenho de uma personalidade cada vez mais misteriosa. Quase conseguia tocá-las, mas, e se doessem outra vez? Seria fácil abstrair-se mais uma vez somente balançando as pernas para frente e para trás, mesmo no mundo paralelo criado apenas para as mais raras reflexões? Era esse o seu segundo medo: ver, tocar e sentir as cicatrizes sem poder voltar a fingir não tê-las novamente. Ela não se arriscaria tanto.
Adepta de desafios, criava coragem para retornar e ver a história correr pro mesmo rumo novamente, ignorando qualquer tentativa sua de mudar, e oferecer, sem dó nem piedade, mais uma parte de seu mundo já calejado pelos insanos.


Carpe diem.