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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Catarina

Sentou-se no banco da praça mais próximo à avenida principal. A bicicleta estava quebrada e provavelmente não teria conserto. “Pelo menos você não sente dor”, pensou ao olhar o metal retorcido à sua frente.

Seu corpo tinha arranhões de tamanhos diversos e a pele ardia tanto que a fazia franzir o rosto.

- Quando foi que você perdeu o controle da bicicleta?

- Quando foi que você perdeu o controle da sua vida?

A irmã, sentada do lado direito, queria explicações sobre o ocorrido. Do outro lado, alguém lhe perguntava algo que dificilmente poderia responder.

- Não sei. – respondeu para ambas as perguntas e obteve dois risinhos sarcásticos.

O carro se aproximou e o motorista buzinou. Hora de consertar o “destrambelho” de Catarina. De novo. Andando com dificuldade percebeu que o “alguém” não a acompanharia até o hospital e, agora, olhando de longe, percebeu também que o “alguém” se assemelhava à sua própria imagem. Não tinha todos os arranhões e fraturas, não se percebia os mesmos traços nem ao menos aqueles mais evidentes, mas a expressão de dor e frustração era a mesma.

Entrou no carro, que saiu logo depois. E Catarina sorriu por perceber que uma parte de si, a de que mais gostava, nunca teria conserto.


Carpe diem